A aceitação errada
Há poucos dias recebi um vídeo acompanhado de uma mensagem de incredulidade de uma amiga. No vídeo, várias mulheres obesas dançavam twerk (estilo de dança que foca os movimentos, essencialmente, dos glúteos) com palavras de encorajamento de uma celebridade e feminista brasileira. O objetivo do vídeo era promover a aceitação, o amor-próprio e o respeito por todos os tipos de corpos. Confesso que na altura não me chocou porque, felizmente, a liberdade de expressão já está presente na maioria das nações e as regras estão a desaparecer aos poucos.
Se por um lado a abstração da 'normalidade' sempre esteve presente, por outro, sempre houve um modelo, mais ou menos, típico de 'normalidade'. Por exemplo, um casal gay nunca foi uma situação normal até há bem pouco tempo mas isso não implica que um casal heterossexual seja anormal. Isto é, duas situações que, à partida são contraditórias, são normais, não o sendo.
No caso do aspeto físico, na Grécia antiga uma mulher roliça era desejada pelos homens, era o padrão de uma mulher bela. No início do século XXI, as mulheres lutavam para se tornarem mais esbeltas e graciosas porque essas sim, eram consideradas atraentes. A grande maioria das pessoas tinha uma mesma noção de formosura e era essa noção que se tornava o padrão, sempre com exceções. Atualmente já não há padrões uma vez que já (quase) não há maiorias. Todos pensamos diferentes, todos queremos pensar diferente. Habituada já a isto, não dei nenhum feedback construtivo à minha amiga.
Uns dias depois ela explicou-me o seu ponto de vista. Disse que sim, que concordava com o amor próprio e a aceitação mas isto jamais se aplicaria a situações que poriam em risco a saúde do ser humano. Não consegui estar mais de acordo com ela.
Ser saudável está na moda e que boa moda! Não se exige magreza mas sim um equilíbrio, a conjugação de comida saudável com exercício físico pecando uma vez por outra, estando no sofá o dia todo ou a tragar uma tablete de chocolate branco. Mas só mesmo de vez em quando, caso contrário, corre-se o risco de se sofrer, física e psicologicamente, devido à preguiça ou à vontade louca de enfardar este mundo e o outro.
Desde quando é que pessoas pouco saudáveis são incentivadas a fazerem o que querem (incluindo javardar em comida de plástico e açúcar)? Desde quando é que pessoas doentes (o antónimo de saudável) são encorajadas para se aceitarem como tal sabendo que há soluções melhores? Desde quando é que uma pessoa escolhe ser doente e se ama dessa maneira?