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Por Definir

Por Definir

25
Fev19

A aceitação errada

Há poucos dias recebi um vídeo acompanhado de uma mensagem de incredulidade de uma amiga. No vídeo, várias mulheres obesas dançavam twerk (estilo de dança que foca os movimentos, essencialmente, dos glúteos) com palavras de encorajamento de uma celebridade e feminista brasileira. O objetivo do vídeo era promover a aceitação, o amor-próprio e o respeito por todos os tipos de corpos. Confesso que na altura não me chocou porque, felizmente, a liberdade de expressão já está presente na maioria das nações e as regras estão a desaparecer aos poucos. 

Se por um lado a abstração da 'normalidade' sempre esteve presente, por outro, sempre houve um modelo, mais ou menos, típico de 'normalidade'. Por exemplo, um casal gay nunca foi uma situação normal até há bem pouco tempo mas isso não implica que um casal heterossexual seja anormal. Isto é, duas situações que, à partida são contraditórias, são normais, não o sendo. 

No caso do aspeto físico, na Grécia antiga uma mulher roliça era desejada pelos homens, era o padrão de uma mulher bela. No início do século XXI, as mulheres lutavam para se tornarem mais esbeltas e graciosas porque essas sim, eram consideradas atraentes. A grande maioria das pessoas tinha uma mesma noção de formosura e era essa noção que se tornava o padrão, sempre com exceções. Atualmente já não há padrões uma vez que já (quase) não há maiorias. Todos pensamos diferentes, todos queremos pensar diferente. Habituada já a isto, não dei nenhum feedback construtivo à minha amiga. 

Uns dias depois ela explicou-me o seu ponto de vista. Disse que sim, que concordava com o amor próprio e a aceitação mas isto jamais se aplicaria a situações que poriam em risco a saúde do ser humano. Não consegui estar mais de acordo com ela. 

Ser saudável está na moda e que boa moda! Não se exige magreza mas sim um equilíbrio, a conjugação de comida saudável com exercício físico pecando uma vez por outra, estando no sofá o dia todo ou a tragar uma tablete de chocolate branco. Mas só mesmo de vez em quando, caso contrário, corre-se o risco de se sofrer, física e psicologicamente, devido à preguiça ou à vontade louca de enfardar este mundo e o outro.

Desde quando é que pessoas pouco saudáveis são incentivadas a fazerem o que querem (incluindo javardar em comida de plástico e açúcar)? Desde quando é que pessoas doentes (o antónimo de saudável) são encorajadas para se aceitarem como tal sabendo que há soluções melhores? Desde quando é que uma pessoa escolhe ser doente e se ama dessa maneira? 

18
Fev19

Os casais gays e os outros

Numa conversa sobre casais e programas de televisão, a minha tia disse-me que lhe dava nojo ver "os paneleiros na televisão". Aquelas palavras chocaram-me apenas durante 1 segundo porque me lembrei que, já tendo 70 anos, foi educada numa sociedade conservadora com pouco espaço para liberalismos.  

O que me incomodou de verdade foi reconhecer que não são só as pessoas mais velhas, nascidas ainda na primeira metade do século XX, que reprovam uma relação gay. Há coisas que me transcendem e esta é uma delas. Como é que (ainda) há pessoas que odeiam ou abominam a ideia de existirem casais gays? Por não assegurarem a continuidade da espécia humana pela reprodução natural? Seguindo esta lógica, os casais heterossexuais que decidirem não ter filhos também não colaboram, certo? E ninguém os odeia. Ainda assim, a reprodução foi reinventada e melhorada, dando a oportunidade aos que querem mas têm dificuldades, em ser pais. Este argumento foi, portanto, desclassificado como tal. 

Para além disso, há o problemático caso de orfandade. Quantos milhares de órfãos existirão? Quantas crianças não sofrem com a falta de entidades parentais? Os casais homossexuais podem ajudar a suavizar o problema mas independentemente da sua orientação sexual, todos os casais que optam pela adoção são dignos de louvor.

Não vejo, assim de repente, um argumento que possa ser relevante para o cultivo do ódio contra homossexuais. A mim, incomoda-me na mesma proporção (que ainda é alguma) ver duas mulheres a beijarem-se e uma mulher e um homem a fazerem a mesma coisa. Fico desconfortável e evito comportamentos dessa natureza em público. Mas isto sou eu, que sou conservadora. Ou se calhar, conservadora-liberal. 

15
Fev19

As incoerências e exibicionismos do dia 14 de fevereiro

Há dois tipos de pessoas no Instagram no Dia dos Namorados: as solteiras que querem mostrar que não se importam de o ser e as comprometidas que 'não ligam à data porque o Dia dos Namorados é todos os dias'. 

De certa forma, estamos perante um paradoxo. As solteiras publicam fotografias com as amigas num ambiente festivo com descrições referentes à sua indiferença para com o seu estado civil. Creio que querem mostrar à sociedade que não ficam minimamente aborrecidas por celebrarem esta data sem alguém amorosamente especial. Mas se não lhes afeta, qual a necessidade de gritar isso ao mundo? A ideia que tenho é que há um desespero e uma chamada de atenção por parte dessas pessoas. Que exibicionismo é este? Se está tudo bem, porque é que não vão às suas vidas? Porque é que têm que dar ênfase à sua felicidade neste dia?

As pessoas comprometidas são um caso ainda mais incoerente. Demonstram o seu amor para com o parceiro(a) publicando fotografias dos dois mas realçando que o Dia dos Namorados não é só dia 14 de fevereiro mas sim todos os dias do ano. Então porque é que, ao longo do ano, não postam fotografias com a mesma descrição? Porque é que só neste dia é que se lembram disso? Porque é um dia especial? Então afinal, o Dia dos Namorados não é todos os dias.

 

06
Fev19

A Rua do Alecrim do Chiado

Enquanto atravessava a Rua da Misericórdia em direção à Praça Luís de Camões para esperar a minha companhia de almoço, não consegui evitar espreitar a Rua do Alecrim. Estaquei no cimo da rua e contemplei o rio ao fundo sentindo a sua dimensão e profundidade com uma antagónica leveza. 

De todas as ruas de Lisboa, aquela é a que me transporta para o passado de uma capital mais autêntica, mais cooperativa e rústica. Tais pensamentos foram influenciados por Saramago aquando da leitura da sua belíssima obra "O Ano da Morte de Ricardo Reis".

Corria o ano de 1936 quando Ricardo Reis voltou do Brasil - local onde se tinha exilado - com o propósito de comparecer ao funeral de Fernando Pessoa. Hospedado no Hotel Bragança localizado na Rua do Alecrim, o heterónimo de Pessoa estabelece e desenvolve relações com os empregados do hotel e seus clientes. No decorrer do livro, Ricardo Reis critica subtilmente a sociedade portuguesa e dedica o seu tempo à reflexão do sentido da vida. 

Ainda que denso, é um livro que se lê de empreitada por ser, ainda que não exaustivo, claro e preciso na descrição das situações, cenários e personagens. Tive a sensação de ser espectadora das peripécias de Ricardo Reis numa Lisboa do século XX. Por esta razão, nunca passo pela Rua do Alecrim sem imaginar o quotidiano que se vivia nessa altura. 

01
Fev19

As idas à biblioteca

Enquanto ainda estava na Ásia ansiava constantemente pelas idas à biblioteca municipal. São, provavelmente, o ponto alto da minha semana. Um não-leitor diria que a minha vida é aborrecida e, por vezes, é mesmo mas creio que, como qualquer uma, tem fases. E mesmo nas fases mais preenchidas de trabalho ou de encontros sociais, a ida à biblioteca continua a ser a minha atividade de eleição. 

Desengane-se quem pensa que não existe um método nem rigor aquando da escolha dos próximos livros a ler. De todas as vezes que lá vou, começo por dar uma vista de olhos aos destaques - livros recentemente editados. Destes expositores é habitual pegar em dois ou três e decidir trazê-los comigo.

Assim que estou convicta das minhas escolhas, dirijo-me à prosa portuguesa e, dependendo do estado de espírito, opto por escritores com os quais já estou familiarizada como José Saramago, João Tordo, Valter Hugo Mãe ou aposto (às cegas) num escritor que ainda não conheço. 

No fim, dedico-me aos autores estrangeiros e percorro as estantes desta categoria pela enésima vez. Se nenhuma edição recente me despertar o interesse, volto-me para os clássicos uma vez que decidi que iria ler o maior número possível de clássicos este ano. 

Como se pode calcular, saio com mais livros do que alguma vez conseguirei ler em 4 semanas e todos os dias olho para a pilha que não desce porque não tenho tanto tempo livre como mereciam. De momento tenho 6 dos quais 3 têm mais que 400 páginas e os outros 3 têm a letra miudinha. 

Nota

Todas as imagens aqui publicadas são do Pinterest, excepto se existirem indicações contrárias.

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