Não se pode ter tudo na vida
Sempre utilizei a palavra ‘maricas’ ou ‘mariquinhas’ no meu dia-a-dia e, só quando a igualdade de género teve uma crescente, é que me debrucei sobre os vários sentidos da palavra. Para mim, ‘maricas’ sempre foi (e sempre será) um sinónimo de medroso, cobardolas e medricas. Chamava muitas vezes ‘mariquinhas pé-de-salsa’ ao meu primo que, como não tenho irmãos, atormentava quando era mais nova. Ainda hoje o faço, já o garoto tem 18 anos.
Lembro-me de um dia uma pessoa me ter chamado a atenção para dois ‘maricas’ que estavam a passar na rua. Instintivamente, perguntei se os conhecia para estar a fazer aquele reparo, ao que a pessoa me disse que era fácil de saber uma vez que estavam de mãos dadas. Fiquei confusa durante um segundo e percebi que o que a pessoa queria dizer era que eram gays.
Ao que parece, ‘maricas’ não é só sinónimo de medroso mas também de ‘bicha’, ‘larilas’ ou ‘paneleiro’ – vocábulos extremamente negativos e depreciativos. Mais especificamente, pensei no caso do meu primo adolescente. Sendo ele bastante tímido, se se sentisse atraído por rapazes, teria muita dificuldade em o revelar e teria ainda mais se achasse que eu repudiava a homossexualidade. Esta teoria estende-se ao resto dos meus amigos e familiares. E não são só as pessoas do género masculino que se podem sentir ofendidas mas também estou sujeita a levar uma reprimenda de qualquer feminista que me oiça.
Acabei de decidir que o mais seguro será eliminar a palavra ‘maricas’ do meu vocabulário. Em prol da indiscriminação, a minha liberdade de expressão sofreu um golpe.