Um fracasso que lecionou
Um dia não me corria tão mal há muito tempo.
A levantar-me às 6h30 para apanhar um autocarro que se atrasou, iniciei a viagem de ontem já cansada. O meu companheiro era um rapaz britânico que está na mesma situação que eu: a viver na Ásia por uns tempos. Licenciado em literatura inglesa, é um tipo simpático e, claro, adora livros. Poderia pedir melhor companhia?
Incrivelmente, chegámos à cidade vietnamita com muita vontade de voltarmos para casa. De rastos e sem essa opção, decidimos comer qualquer coisa para repor energias. Dirigimo-nos a um restaurante local e pedimos o que sabíamos (pensávamos) ser seguro. Extremamente oleosas, as panquecas vietnamitas eram insípidas. O rapaz não só comeu tudo, como utilizou as suas mãos para o fazer. Nada contra não fosse ele limpar os dedos aos calções e à blusa. Considero-me uma pessoa limpa, extremamente asseada, fruto da minha educação. Penso que será fácil imaginar que não consegui acabar o meu almoço.
Sabendo que ninguém é perfeito, esforcei-me para esquecer esta calamidade. Mais adiante, pagámos uns euros para ter acesso a um monumento considerado Património da Humanidade pela UNESCO. Foi uma desilusão.
Havia apenas mais um ponto turístico que nos interessava e quando lá chegámos, o guarda avisou-nos que estava fechado. Frustrados, tentámos planear o resto do dia quando nos apercebemos que o guarda nos estava a chamar, pedindo dinheiro para a entrada. Percebemos que estava a ser corrupto e, como achámos a situação muito desagradável, partimos.
O céu ameaçava chover pelo que decidimos tomar uma bebida reconfortante. Demasiado exaustos e desiludidos, queimámos 4 horas num café, à espera do comboio que nos levaria de volta a casa. Comboio esse que se atrasou mais do que 1 hora e que parecia saído dos filmes.
A plataforma era antiga e o senhor que dava indicações ao comboio tinha uma daquelas lanternas ao estilo anos 90. O conforto que oferecia era razoável mas não se enquadrava no espaço. Porque o comboio passava junto às casas, a pobreza deste país esteve mais visível que nunca. Senti que retrocedia no tempo e que estava no século XX. Foi a partir deste momento que parei de me sentir desapontada porque, no final do dia, eu tinha à minha espera uma cama confortável e comida para me aconchegar o estômago.